Casos de assédio ainda são muito comuns em nossa sociedade. Pode ser considerado assédio qualquer tipo de perseguição insistente e inconveniente, proferida para uma pessoa ou para um grupo, afetado a sua dignidade, liberdade ou tirando a sua paz.
Dentro do ambiente universitário também não é diferente. Em suma, é possível encontrar muitos casos de assédio na faculdade. Estamos falando de assédio moral, sexual, e outros tipos de violência. Nesses casos, o importante é não se calar e sempre procurar ajuda, dentro ou fora da instituição. E, se for o caso, denunciar.
Neste post vamos detalhar um pouco mais esse assunto delicado. Entender os tipos de assédio e o que as universidades podem fazer para reduzir as ocorrências. Vamos trazer também a experiência de uma profissional especialista nessa área.
Tipos mais comuns de assédio
1. Assédio sexual
O assédio sexual não acontece somente quando há um abuso ou violação sexual. Esses casos são considerados extremos. Porém, existem outras ações, muitas vezes consideradas como “normais” dentro de nossa sociedade que também são caracterizadas como assédio sexual.
É considerado assédio sexual qualquer tipo de ato que seja feito sem consentimento. Isso inclui conversas e brincadeiras desagradáveis, convites insistentes, avanços de caráter sexual indesejáveis ou não requeridos, favores sexuais, contatos físicos ou verbais com uma atmosfera ofensiva ou hostil, violência física ou metal, coerção, piadas ou trocadilhos com cunho sexual e até mesmo conversas de natureza sexual, sem consentimento da vítima.
2. Assédio moral
O assédio moral acontece quando uma pessoa sofre uma violência que fere a sua dignidade, ou quando é frequentemente humilhada. O assédio moral acontece, muitas vezes, dentro de ambientes corporativos. Ele é caracterizado quando um empregado é exposto a constantes situações vexatórias ou humilhantes, tanto pelos seus superiores, quando pelos pares.
Quando há um caso de assédio moral, é caracterizado pela lei brasileira como um crime de danos morais. Isso porque não existe uma lei específica para este tipo de assédio. O assédio moral também pode acontecer em meio acadêmico, quando por exemplo, um professor humilha ou faz ameaças aos seus alunos.
O assédio na faculdade
Em maio de 2018, a Folha de São Paulo entrevistou a pesquisadora Marcia Barbosa, de 58 anos. Marcia é vencedora do Prêmio L’Oréal-Unesco para Mulheres na Ciência, professora titular de Física na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É uma ativista na luta contra o assédio sexual na faculdade e a favor da igualdade de gênero na ciência.
Na entrevista, a professora relata que o assédio sexual é mais comum do que se imagina dentro das universidades. Ele acontece de forma frequente. “Eu constato isso no fato de que todas as vezes em que eu falei sobre o tema nos últimos anos, nos mais diversos lugares, mulheres vieram me procurar depois das palestras para contar que elas passaram por isso dentro da universidade”, afirma Marcia ao jornal.
A pesquisadora completa dizendo que segundo um dos poucos dados que existem na atualidade sobre o tema, que consta em uma pesquisa realizada pelo Instituto Avon, no ano de 2015, 56% das alunas de graduação e pós-graduação alegam que já sofreram algum tipo de assédio por um professor, estudante o técnico administrativo.
É comum encontrar mulheres no meio acadêmico que evitam trabalhar em determinada área, pois possuem medo de sofrerem assédio. Ou seja, muitas mulheres sofrem assédio na faculdade e isso causa também a exclusão de mulheres em determinadas áreas.
Porque as vítimas não denunciam?
É muito comum que vítimas de assédio não o denunciem por diversas razões. Algumas pessoas possuem medo de retaliações. Ou pensam que a denúncia não terá credibilidade. Ou seja, que ninguém vai acreditar no que realmente aconteceu. Além disso, têm pessoas que não denunciam por medo de ficarem marcas e por isso, terem a carreira prejudicada.
No mundo universitário, ainda existe outro fator, que é a falta de preparo que os órgãos competentes possuem para apurar os casos denunciados. A maioria das pessoas não se sentem confortáveis para expor um caso de assédio nestes órgãos.
Segundo Marcia, na reportagem, também existe um ambiente de negação “O professor e a professora corretos, que constituem a maioria dos docentes, em geral não acreditam que um colega seja capaz de assediar alunas e alunos. Fica parecendo que o problema não existe”, afirma a professora.
Acabe com o ciclo do silêncio
Para acabar com o ciclo do silêncio, segundo a professora, é necessário que todas as pessoas que sofram abuso, denunciem. “Enquanto só uma ou outra falar, vão dizer que é mentira, que são loucas, mas quando elas se unirem, quando cinco ou seis se levantarem e acusarem a mesma pessoa, vai se iniciar um processo disruptivo e descontrolado dentro da universidade”, diz, na reportagem da Folha.
Marcia faz um paralelo com o movimento “Me too”, dos Estados Unidos. A professora também diz que antigamente as mulheres não verbalizavam tanto. Mas, hoje em dia, as mulheres falam muito mais, denunciam e clamam por seus direitos. Sendo assim, pode ser só uma questão de tempo para que algum escândalo aconteça e escancare os casos de assédio nas faculdades.
O que as universidades podem fazer?
Segundo Marcia, o primeiro passo é ter mais do que apenas ouvidorias. Atualmente, o processo funciona da seguinte maneira: alguém relata um assédio para a ouvidoria, o caso é repassado para o diretor da instituição, que dá andamento. Porém, a grande maioria dos diretores não possuem conhecimento para lidar com assuntos deste tipo. Para Marcia, seria necessário um setor com psicólogos e profissionais treinados.
Outro ponto que a professora levanta é a questão das regras. Nas universidades, existem diversas regras e comitês de ética. O exemplo citado na entrevista é sobre experimentos em animais. Quando alguém vai realizar um experimento com animais dentro da instituição, é necessário que o projeto seja submetido a um comitê de ética animal. Existem regras acerca dos dados e pesquisas realizados nas universidades e até, como visto, regras para o uso de animais.
Mas, segundo Marcia ,”não temos regras para o relacionamento entre as pessoas”. Ela acredita que isso acontece porque a universidade tem um apego muito grande pelo conhecimento. Porém “não nos demos conta de que quando abusamos de outro ser humano, estamos prejudicando a produção de conhecimento na ciência”, relata a pesquisadora. Quando existe casos de assédio na faculdade, as pessoas acabam ficando inibidas e constrangidas. Dessa forma, acaba com todo o processo criativo e educacional da vítima.
Em universidades de países desenvolvidos é proibido que professores tenham relacionamentos afetivos com os alunos, dessa forma, não abre margem.
Busque uma rede de apoio
Já sofreu algum tipo de assédio na faculdade? Então não se cale, busque uma rede de apoio em amigos e familiares e denuncie. Dessa forma, você colabora para que casos como esses não aconteçam mais.
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