No ano de 2021 as mulheres brasileiras ultrapassaram a marca de 1 milhão de investidoras na bolsa de valores. O número é positivo, mas ainda distante do total de investidores do país, que somava 5 milhões no Brasil. Ou seja, apenas um quinto eram mulheres. Esses números escondem o difícil cenário econômico feminino em todo o mundo.
A relação das mulheres com finanças é permeada por tabus e vai desde a desigualdade salarial com os homens até a dificuldade dos casais em falarem sobre dinheiro e a cultura arcaica de delegar as finanças apenas para os homens. Esses fatores dificultam a relação delas com o dinheiro, mas são cada vez mais debatidos, o que têm, aos poucos, ajudado a melhorar a relação das mulheres com o dinheiro.
Um estudo do banco de investimentos UBS de 2019, por exemplo, apontou que 82% das mulheres acreditam que seu marido entende mais de dinheiro e investimentos do que elas.
O mesmo estudo mostrou que, ao redor do mundo, mais de 80% das mulheres estão extremamente envolvidas com as suas finanças de curto prazo, mas levando em conta despesas diárias. Mas, curiosamente, quase 60% delas não estão inteiradas dos aspectos mais importantes de suas seguranças financeiras, como investimentos, seguros, aposentadoria e outros planejamentos de longo prazo.
Cenário econômico feminino
Aos poucos, ao longo das últimas décadas, as mulheres vêm conquistando cada vez mais espaço na sociedade e estamos em um momento de transição.
Um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontou que 75% de 13 mil empresas de 70 países ao redor do mundo tiveram resultados 20% melhores com mulheres liderando os negócios. Isso foi possível, pois as profissionais proporcionaram mais criatividade, diversidade e inovação.
Segundo relatório do World Gender Gap 2020, do Fórum Econômico Mundial, no atual ritmo seriam necessários 99,5 anos para que a igualdade de gênero fosse alcançada em todo o mundo.
Uma maior participação da mulher no mercado de trabalho e em cargos de direção pode injetar até US$ 12 trilhões no PIB (Produto Interno Bruto) global até 2025, de acordo com cálculos da McKinsey. No Brasil, o incremento seria de US$ 410 bilhões. Ou seja, o equivalente à riqueza gerada por toda a região Nordeste do país, por exemplo.
Em 8 de março de 2019 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que, em 2018, o rendimento médio das mulheres em comparação ao dos homens é 20% menor. Em outras palavras, elas ganham 79,5% do salário dos homens. Os números já mostraram uma melhora em relação a 2017, quando o rendimento médio das mulheres trabalhadoras equivalia a 78,3% ao do dos homens, mas ficou abaixo do observado em 2016 (80,8%).
Por que as mulheres são as maiores vítimas de pobreza na terceira idade no mundo?
Os reflexos dos dados são sentidos também no longo prazo. De acordo com a ONG Wiser (Women’s Institute for a Secure Retirement), em relatório de 2011, 11,5% das mulheres norte-americanas com mais de 65 anos estavam em situação de pobreza. Já os homens respondiam a 6%.
O padrão registrado nos Estados Unidos foi verificado também se repete no restante do mundo. De acordo com o livro Valor Feminino, escrito pela pesquisadora Andrea Villas Boas, no Brasil também há dados preocupantes neste aspecto.
A pesquisadora ressalta, por exemplo, que três em cada quatro idosos pobres no Brasil são mulheres. A cada 10 brasileiros, 7 enfrentarão a pobreza em algum momento. E no primeiro ano após o divórcio, o padrão de vida das mulheres cai por volta de 73%. Por isso, falar sobre planejamento financeiro, finanças e investimentos é cada vez mais urgente e fundamental.
Por que falar sobre finanças com mulheres é um assunto urgente?
Em 2021 houve um grande avanço no número de mulheres investidoras no Brasil. O número saiu de 847,5 mil em 2020 para 1,171 milhão em 2021. Ou seja, um crescimento de 38%. O número é positivo, mas ainda contrasta com o dos homens. No mesmo período, os homens cresceram 61,3% em participação na bolsa de valores, para 3,84 milhões.
Setor dominado majoritariamente pelos homens, o mercado financeiro tem aos poucos ganhado cada vez mais adeptas. As mulheres têm crescido não só como investidoras, mas também dentro do mercado financeiro.
Para incentivar a atuação de mulheres no mercado financeiro, a Nasdaq, bolsa de valores dos EUA, adotou em agosto de 2021, novas regras que determinam que os conselhos de administração das empresas listadas na bolsa deverão ter, pelo menos, duas pessoas diversas, sendo uma mulher e outra pessoa que se identifique dentro de outros grupos vulneráveis.
Mulheres investidoras têm retornos melhores do que os homens
Na média dos últimos 10 anos as carteiras de investimentos das mulheres tiveram um rendimento de 0,4% maior do que o dos homens, segundo o estudo “Women and Investing Study”, do grupo de investimentos americano Fidelity. O estudo analisou 5,2 milhões de clientes de varejo entre 2011 e 2020.
Outro estudo, feito em 2018 no Reino Unido, pela Warwick Business School, mostrou que as investidoras lucraram 1,8% a mais em relação aos investidores homens. A pesquisa levou em conta 2,8 mil investidores durante três anos.
No Brasil, as carteiras de investimentos das clientes mulheres do Banco do Brasil apresentaram rentabilidade média 9% superior à média geral, segundo dados do próprio banco. No Banco do Brasil, os dados são relativos aos clientes investidores dos segmentos Varejo e Alta Renda, sem levar em conta os poupadores.
Segundo dados da B3 de 2021, a média do primeiro valor investido por mulheres também é maior do que a média dos homens. Enquanto elas investem por volta de R$ 418, eles investem R$ 303.
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O futuro do cenário econômico feminino
Mas o cenário econômico feminino parece estar mudando nas novas gerações, pelo menos na América Latina.
As mulheres mais jovens no Brasil (55%) e no México (62%) ou assumem o controle ou dividem a responsabilidade igualmente com o cônjuge quando se trata do planejamento financeiro de longo prazo, segundo estudo do UBS.
Mesmo que seja um cenário mais positivo em relação aos outros países, ainda deixa uma média de 42% mal preparada para administrar as necessidades financeiras durante momentos críticos das suas vidas, como a morte do marido ou o divórcio. Ao mesmo tempo, a maioria das mulheres acredita que viverá mais do que seu cônjuge e está ciente da importância das necessidades financeiras de longo prazo.
Segundo o estudo de 2019 do UBS, na média mundial, as mulheres mais jovens estão ainda mais dispostas do que as mulheres mais velhas em deixar as decisões de planejamento financeiro e de investimento para os seus cônjuges. Cerca de 60% das mulheres com menos de 50 anos delegam as decisões aos seus maridos, em comparação a 55% das mulheres acima de 50 anos.
“À medida que a vida avança, algumas circunstâncias podem forçar as mulheres a assumirem o controle de suas finanças – quando elas não estão preparadas. Mas isso não ocorre com as mulheres que compartilham as decisões financeiras de longo prazo com seus cônjuges. Hoje elas se sentem confiantes sobre o futuro e o patrimônio, por estarem mais preparadas para o que pode acontecer amanhã”, afirmam os estudiosos do UBS.