O que é variação linguística

Você sabe ou já ouviu falar sobre o que é variação linguística? Caso desconheça o que significa esse termo, saiba que, muito provavelmente, você fale um estilo do português que é determinado pela comunidade que está inserido, desse modo você fala a variante do português que corresponde a sua região. Isso se chama variação linguística.

Esse termo é pouco explanado fora do meio acadêmico ou nas escolas. Portanto, é de grande utilidade conhecer como e de que forma ocorre, para que se evite algo comum em quem comete desvios da língua considerada padrão, o preconceito linguístico. Veja a seguir o que é a variação linguística.

Variação linguística, o que é?

A variação linguística é um fenômeno que se manifesta nas mais diversas situações comunicativas de uma sociedade, região ou cultura.

É um movimento natural e que ocorre em todas as comunidades de falantes daqueles que compartilham da língua oficial de um país.

O maior erro que um falante do português brasileiro pode cometer é pensar que se fala apenas uma única unidade linguística no Brasil, no caso o português.

Toda língua, em qualquer lugar do mundo, sofre mudanças e adaptações causadas por diversos processos históricos, sociais ou econômicos.

Sendo assim, a língua falada é predominantemente heterogênea e não homogênea e uniforme, conforme diz o senso comum.

Nesse sentido, o português falado no Brasil apresenta uma enorme variabilidade e diversidade nas situações em que se utiliza a fala, graças as fortes influências de imigração e grande extensão territorial que o país tem.

Portanto, o português que é falado no Nordeste pode se diferenciar de como é falado no Sul, que se difere do Centro Sul e assim por diante, em todas as regiões.

Dentro de um mesmo Estado também é comum ocorrer variações na fala, como por exemplo: quem mora na região Oeste de Santa Catarina têm um modo de fala característico daquela região, que se difere de quem mora na capital Florianópolis.

Alguns outros fatores também contribuem para o dinamismo da língua falada, por exemplo: idade, sexo, classe social ou grau de escolaridade.

Portanto, fica evidente o quão sensível e viva é a língua. Todo falante imprime em uma comunidade sua variedade de fala e adquire as variações da região por onde passa ou vive.

Tipos de variedades linguísticas

Veja a seguir um panorama dos tipos de variedades linguísticas:

Variedade geográfica

Diz respeito à distância geográfica que separa os falantes que têm diferentes formas de pronúncia, vocabulário ou estrutura sintática de acordo com a região onde vivem.

Variedade histórica

Está relacionada à própria evolução da língua, no caso o surgimento de novas palavras e o desuso de outras, mudanças de ortografia, fonética, etc.

Variedade social

Corresponde à variedade exercida pelo falante de uma determinada condição social, por exemplo: profissão, escolaridade, idade, etc.

Variedade situacional

Variedade linguística utilizada em determinada situação, no caso o monitoramento da fala que um falante exerce em determinado contexto. Por exemplo, um falante pode optar em utilizar uma linguagem mais formal ou informal em uma situação comunicativa. No caso de um entrevista de emprego, certamente optará pela linguagem formal, ou seja, o mais próximo da norma culta.

Três tipos de variações

As variedades colocadas acima são englobadas por três tipos de variações. Veja a seguir quais são:

Diafásica

Corresponde à variação que dependerá do contexto comunicativo. Nesse sentido, refere-se a maneira que um falante se dirige ao ouvinte, optando por uma linguagem formal ou informal.

Diatópica

Essa variação diz respeito ao lugar. Algumas regiões registram nomes diferentes para alimentos.

Por exemplo: batida pode ser um tipo de bebida em alguma região e em outra será chamada de vitamina. Torrada pode equivaler a misto quente, bergamota pode ser mexerica, e assim por diante.

Portanto, refere-se ao uso regional de determinados vocabulários e é profundamente marcada pela cultura local desse lugar.

Diastráticas

Essa variação corresponde aos termos utilizados em determinadas convivências.

Desse modo, pertence a um grupo específico de pessoas.

Por exemplo, gírias, termos jurídicos, jargões técnicos, etc. Portanto, marcam o grupo que uma pessoa convive ou ofício que exerce.

Como ocorre o preconceito linguístico

A língua é um instrumento poderoso de comunicação, as variações linguísticas, portanto, podem sofrer prestígio ou desprestígio.

O preconceito ocorre quando um falante atribui juízo de valor sobre uma determinada variação.

Dessa forma, ela passa a ser considerada um erro. Essa é uma das maneiras que pode excluir um indivíduo de determinado grupo. Dessa forma, ele se sente inferiorizado e terá dificuldades em se comunicar espontaneamente.

O preconceito ocorre de forma mais evidente sobre as variações sociais, podendo ser elas de ordem fonológica ou morfossintática.

Um exemplo claro de preconceito de ordem fonológicas é quando o falante comete uma troca fonética chamada de rotacismo. Por exemplo, Cláudia= “Cráudia”; Glauber= “Grauber”; bicicleta=”bicicreta”.

Também é comum haver preconceito na pronúncia de imigrantes, por exemplo falantes de certas comunidades pronunciam “caroça” ao invés de carroça; “caro” ao invés de carro, etc.

Para as questões morfossintáticas é comum ouvir a todo momento “custa vinte real” em vez de custa vinte reais; “eu quero dez pão” ao contrário de dez pães; “eu vi ela” raramente alguém diz eu a vi, que seria no caso a norma culta da língua.

Dessa forma, os falantes são estigmatizados por sua fala, acarretando em desprestígio social e exclusão.

O preconceito também pode acontecer ao inverso, caso o falante respeite muito as normas da gramática, ele será considerado pedante.

O que é certo ou errado na língua falada?

O erro consiste em achar que a língua falada é cristalizada e estagnada, que deve ser igual a modalidade escrita e na verdade a escrita é uma tentativa de imitação da fala.

De algum modo foi convencionalizado que a fala deveria obedecer a escrita e isso é uma condição completamente arbitrária, sendo que não se aplica a fala tal imposição.

A língua falada é, acima de tudo, muito sensível aos processos de mudanças da sociedade e as diferenças regionais encontradas no país. É importante lembrar que a fala é muito volúvel, dessa forma, ela sofre diversas transformações das mais diversas ordens, sem falar que ela exerce enorme influência para a escrita.

Portanto, o preconceito linguístico acontece quando não há aceitação com as diferentes maneiras de se expressar na fala e pelo completo desconhecimento do histórico daqueles que fogem às regras da norma padrão.

É importante lembrar que nem todos têm acesso às mesmas oportunidades e cada um é formado por uma bagagem social e histórica diferentes, desse modo, a sua maneira de se expressar através da fala será diferente.

Portanto, compreender a variedade linguística significa ter um amplo conhecimento do repertório verbal do território nacional.

Valorização das culturas

O preconceito linguístico é algo completamente contraditório à língua, sendo ela o principal meio de interação social. Como poderia então ser um meio de segregação?

Contudo, se não houver respeito à variação linguística, a fala perderá a espontaneidade, dessa maneira, as situações comunicativas serão todas engessadas.

Ela serve portanto, como uma forma de identificar a grande variedade e diversidade linguística no país. Ela pode ser uma ferramenta muito útil na valorização das diversas culturas que compõem o Brasil.

Agora que você conhece mais sobre variação linguística e preconceito linguístico, certamente entenderá mais sobre os diversos fenômenos comunicativos que tornam o português falado no Brasil tão singular e rico.

Um exemplo de variação linguística

Veja a seguir um vídeo de Rolando Boldrin que aborta sobre o tema do preconceito:

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